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Mostrando postagens de março, 2022

Boletim de ocorrências #08

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Há uns dias atrás, fiz uma conta no instagram. É um pleonasmo dizer há dias atrás? Porque não poderia ser há dias à frente, né. Então, há uns dias, fiz uma conta no instagram. Hoje, pensei em publicar uma foto. Que dificuldade! Faz quatro anos que sa í das redes sociais e agora me sinto como alguém que chegou diretamente da idade da pedra. Tenho a impressão de receber bofetadas de imagens. Apesar de que parece ser algo tão simples para todo mundo. Bom... pensei em publ icar uma foto. Uma foto de mim, quando criança, caminhando em direção à câmera. Gosto, porque parece que sou alguém decidido, com objetivos claros e energia para alcançá-los. Também porque estou indo em direção a quem está olhando pra foto. Como se estivesse prestes a sair do enquadramento e entrar no “mundo real” do presente. Entrar e agir. Pensei em publicar a foto, coloquei uma legenda simpática, apresentando brevemente o blog. Publiquei. Não. Não publiquei. Aparentemente, minha foto caminhando decidido não condiz c

Boletim de ocorrências #07

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Agora sim. Será que consigo aprofundar algum tema? Fazendo digressões, como é meu hábito, mas conseguindo manter um fio na conversa? Se depender da memória, vai ser difícil. Hoje, acordei com uma ideia na cabeça. Um título inspirador para uma postagem. Desta vez, fui esperto e pensei “vou anotar”. Porque, quase sempre, me digo que certas ideias são tão marcantes que serão inesquecíveis, mas no momento de retomar essas ideias, já esqueci. Então, “vou anotar” e enquanto esticava o braço para pegar o celular e anotar, pensei que... o quê, mesmo? Meu deus, estou parecendo o tapa na pantera! Ah sim, pensei que com esse título inspirador, seria melhor eu não escrever um diário, mas criar uma ficção. Será que eu seria capaz de escrever uma ficção de verdade? Com começo, meio e fim. Um personagem? Algo que não fossem apenas meus pensamentos aleatórios? Bom, nesta breve divagação enquanto esticava o braço pra pegar o celular, neste desvio rápido do caminho, esqueci o título inspirador. A má

Boletim de ocorrências #06

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Vamos começar? Vamos começar. Agora, voltando do supermercado, pensei em várias coisas que poderia contar aqui e que seriam legais de ler. Será que, na minha cabeça, já sou um produtor de conteúdo? Que pretensão! De qualquer forma, até chegar em casa, esqueci tudo. Seria possível que, depois de quase sete anos, eu ainda não saiba utilizar a máquina de lavar roupa? De tempos em tempos, de acordo com o ciclo que eu escolho, ela não centrifuga as roupas. De jeito nenhum. Pura e simplesmente para de funcionar. E lá vou eu, abrir a porta da máquina. Dá-lhe baldinho, toalhas e desespero para não deixar escorrer toda a água no chão de madeira. Sempre dá errado. Mas hoje, foi pior. E agora? Que mais? Os três primeiros dias foram tão “fáceis”, que pensei em escrever todos os dias, tipo de segunda à sexta. Provavelmente, eu estava sedento por me expressar. Agora, já estou mais calminho e com medo de não ter o que escrever. Como quando vou na terapia e “não tenho o que falar”. Às vezes é só

Boletim de ocorrências #05

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Entre voos e trens de alta velocidade, o fim de semana foi movimentado. Talvez seja a chegada da primavera. A chegada da primavera ou a volta da primavera? Quando eu era criança, adorava um filme que passava todos os anos na sessão da tarde. Duas crianças que partiam em busca de um pássaro azul em um bosque meio mágico e depois tinham que reencontrar o caminho de volta pra casa. Algo assim. Um filme meio sombrio, pelo que lembro. Expressionista, talvez. E ontem, apareceu no telhado, um pássaro coloridíssimo, com a cabeça azul. Era domesticado, provavelmente de um prédio vizinho e estava perdido. Fiquei com medo por ele, abri uma janela e ele veio pulando até mim. Entrou, subiu pelo meu braço e ficou bicando minha cabeça. Todo um evento. No fim, abrimos a janela e torcemos pra ele encontrar o caminho de casa. Como é gostoso ter um animal de companhia! Não lembrava mais. Os gestos de amor incondicional ou mesmo de indiferença amorosa. Até as bicadas na cabeça me pareceram acolhedoras

Boletim de ocorrências #04

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Hoje recebi a Ana para um café, aqui em casa. Eu, que nem sei fazer café. Comprei o café, biscoitinhos, tirei a cafeteira do armário. Ela chegou com um ovo de páscoa, me explicou como fazer café, quanto colocar e ficou bom. A conversa também foi boa. Sempre é. Acho que nos identificamos nos perrengues. Em alguns, pelo menos. E no fim das contas, também foi produtivo. Os desejos dela de longa data conseguiram encontrar os meus desejos nascentes, latentes, e um projeto começa a tomar forma. As tulipas. Joguei fora. Coloquei outras. Me dizia “enquanto há água, há esperança”, mas não. Meio que ficaram feias e não tem espaço para o feio na nossa sociedade. Que horror, dizer isso! Vamos dizer de outra forma: nossa sociedade já tem feiura demais, para a gente manter uma coisa feia em um lugar de destaque, no meio da sala. Melhor assim. E tem uma metáfora aí. Acho. Mandei os três primeiros textos para os amingos (o teclado quis escrever apenas amigos, mas esses são mais que amigos, são am

B.O. #03

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Voltei. Vivo. Até agora. Hoje queria escrever um texto sem uma letra. Como o livro do Georges Perec, sem a letra “e”, que é a mais utilizada por aqui. Ou seja, uma missão dificílima, escrever um livro sem a letra mais utilizada em um sistema de fala e escrita específico. Mas eu decidi escrever sem uma letra por outro motivo. Um problema com uma tecla do meu computador. Quase sempre, se aperto essa tecla, fico sem a maldita letra em um texto. Volto, aperto mais uma vez, com mais força, e ela aparece ali. Ou seja, uma perda de tempo. Tempo que, aliás, me sobra muito desde que começou essa epidemia global. Além disso, teria outra coisa para escrever? Algum desejo particular? Bom, agora só me vem palavras com a letra proibida. Lembro e descarto. Escrevo e apago. Faço malabarismos e substituo. E as tulipas? Acho que vão mumificar. Vou deixar aí, ver o que dá. Depois que mumifica, vira pedra? Vira poeira compactada? Ia procurar, mas desisti. O computador fica muito devagar ao carregar

Boletim de ocorrências #02

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Sobrevivi. Fui, voltei e sobrevivi. Daqui a pouco já tenho que ir para o trabalho. Ontem me deu muita vontade de escrever mais, mas decidi deixar pra hoje. De qualquer forma, me fez bem. Uma das tulipas se arreganhou diante dos meus olhos. Não despetalou, mas está quase. As outras, continuam enrugadas. O word salvou o documento de ontem automaticamente, com as primeiras palavras “a página vazia”, gostei. Estava procurando um nome para um blog e gostei disso. Antes, estava pensando em “Oficina do diabo”, porque dizem que cabeça vazia é oficina do diabo e me sinto bem assim nesse momento. Então, a partir de agora, vamos dizer que página vazia é oficina do diabo. Ao trabalho! Falando em ditados populares, tem outros que gosto de torcer até sair outra coisa. O tradicional “prefiro ser rico e com saúde do que pobre e doente”, mas também “antes nunca do que tarde demais” e, ontem também me veio “nada vale a pena quando a alma é muito pequena”. Sim, tem coisas que não tem salvação. E

Boletim de ocorrências #01

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A página vazia, página em branco. Eu, com o medo de deixar muita informação, acabo me impedindo de escrever livremente. Escrever em português ou em francês? E essas tulipas aqui. Não despetalaram. Foram se enrugando, mas estão ali, firmes, ainda de pé. Muito estranho. Falar da minha mãe, será? Não, não tenho condições de fazer isso agora. Vamos colocar uns objetivos mais simples, então, né? Mais alcançáveis para um primeiro dia de trabalho. O céu hoje, está com uma cor muito bonita. Todo nublado, todo branco, mas com uma luz diferente, amarelada. Deve ser um fenômeno meteorológico qualquer, acho que já ouvi falar. Sol amarelo? Vou procurar. Sim, é um fenômeno meteorológico. Les sables du Sahara , as areias do deserto do Saara vieram parar aqui, trazidas por ventos vindos da Espanha. Obrigado google, obrigado ventinho espanhol, obrigado leveza do grão de areia que atravessa as fronteiras sem limites. Deixou meu dia sépia. Será que é perigoso? Vou procurar. Sim, pode ser perigo