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Mostrando postagens de março, 2023

Boletim de ocorrências #67 : ELA, parte 3

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Ontem, depois de escrever e antes de dormir, tentei lembrar da tradução em português para a palavra francesa détresse . Deve haver uma palavra para isso. Mas não encontrei, não lembrei. O tradutor on line me propõe sofrimento. Sim, é um sofrimento, mas um sofrimento específico, qualificado. Não é qualquer sofrimento. Como explicar? Procuro a tradução em espanhol e aparece angústia. Sim. Mas ainda não. Não é exatamente isso também. Não é só isso. Vou para o dicionário, então. Se não encontro uma palavra satisfatória, talvez a definição me ajude a entender o que estou procurando. No Larousse encontro duas definições que correspondem ao que estou querendo dizer sem encontrar uma palavra em português. “Angústia causada por um sentimento de abandono, de impotência, por uma situação desesperada”. O exemplo é: A détresse do desempregado. E a outra: “Situação crítica, infortúnio que exige ajuda imediata”. E o exemplo: Uma família em détresse . A primeira definição, coloca o foco n

Boletim de Ocorrências #66 : ELA, parte 2

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Voltei a escrever. Esse diário me fez bem, mas também foi um fardo. Uma ocupação intensa que me ajudava a não me confrontar, a não ficar diante desse vazio. Ou a olhar para dentro dele, talvez. Voltei. O que será que eu quis dizer, ontem , ao me comparar com a minha mãe? Ao comparar meus dias com os dias vazios dela? Meu medo? Minha impotência? O medo da minha impotência diante de um destino inexoravelmente vazio? Já falei disso com a minha terapeuta. Ela tentou me fazer entender que minha história não é a história da minha mãe. Minha vida não é a vida da minha mãe. Meu destino não é o destino da minha mãe. Mas para mim, tudo isso é “não necessariamente”. Não necessariamente, mas talvez sim. Talvez seja. Me vejo com frequência espelhando gestos, emoções, ações e reações que eu atribuo a ela. Ou então, talvez, eu esteja apenas projetando nela os meus medos. Talvez os dias da minha mãe não fossem vazios. Pode ser que ela não tivesse essa sensação de uma vida oca depois do infarto

Boletim de ocorrências #65 : ELA, parte 1

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Então era assim que minha mãe passava os dias. Assim, como eu estou passando agora. Como eu passo meus dias quando não tenho obrigações. Fazendo nada. Ocupando o tempo. Passando tempo. Vivendo no vazio. Que vida... Mas o que foi que eu fiz hoje? Já são quatro da tarde. O que foi que eu fiz? Acordei sete e meia, como quase sempre. Tomei café da manhã com o Jérôme. Ele saiu para trabalhar. A partir daí, nada mais aconteceu. Não abri mais a boca. Não emiti mais nenhum som. Será que eu ainda existo? Decidi não ir à academia. Nem yoga, nem pilates, hoje. Assisti a um episódio antigo de uma série. Assisti a um episódio novo. Entre um e outro, fiz um bolo de milho. Comi quase metade do bolo. Dei uma olhada no jornal de ontem. Tentei terminar de resolver o sudoku. Não consegui. Dez para o meio dia. Comi duas torradas com molho de iogurte e chouriço. E mais bolo. Me perdi um pouco na internet, procurando outro site para colocar o blog. Quando vi, já eram duas horas e tinha com

Boletim de ocorrências #64

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As mulheres têm uma vida difícil. Alguém aqui já se depilou com cera, pra saber o que é ser uma mulher de verdade? Eu já. Um dia, encontrei um pote de cera em casa e achei que seria uma boa ideia depilar as axilas. Li as instruções, que eram bem simples, e lá fui eu. Bastava esquentar a cera, passar, esperar um pouco e arrancar. Fácil como tirar doce de criança . Esquentei a cera, peguei aquele palito de picolé que estava grudado no pote e espalhei a cera na minha axila esquerda. Passei bastante, pra cobrir bem os pelos, que são relativamente compridos. Como sou uma pessoa que não gosta de perder tempo, enquanto a cera ia esfriando um pouco na axila esquerda, passei também uma camada generosa de cera na axila direita. Isso, claro, sem baixar o braço esquerdo, pra não ficar com o sovaco colado. Muitos anos de yoga para conseguir dominar o corpo desta forma. Daí, sem baixar o braço direito, fui arrancar a cera do outro lado. Bastou um segundo, meio centímetro de depilação (se é que

Boletim de ocorrências #63

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Daí que, mais uma vez, deixei pra escrever isto aqui no último minuto do segundo tempo. Então, dei uma olhada nas fotos que tinha no meu telefone e encontrei uma, tirada um dia antes de viajar ao Brasil de férias. Ou seja, uma foto recente, mas nem tanto, já que voltei do Brasil há um mês, já. Peraí... um mês? Não! Duas semanas! Apenas duas semanas, mas já parece um mês. Primeiro, porque já estou querendo férias novamente. E depois, porque mal tive um dia de folga desde que voltei. Sim, porque o que eu não expliquei no outro boletim é que resolvi testar o novo emprego sem sair do meu emprego normal, quer dizer, a pessoa está trabalhando de segunda a sexta em um lugar e fim de semana no outro. Mas não era disso que eu queria falar. Era pra falar da foto, né? Essa foto foi tirada um dia antes de eu viajar, logo depois de sair de uma exposição. É um adesivo, colado em um poste dizendo que dias melhores virão. Essa coisa de frases escritas na rua sempre chamaram minha atenção. Com