Boletim de ocorrências #76

A pressão está no seu ponto máximo.

Porque hoje é o dia da tal grande-decisão-importante-que-pode-mudar-o-resto-da-minha-vida e, bem... não vou falar disso. Não queria falar disso, mas dei uma olhada nas minhas anotações sobre assuntos possíveis aqui no blog e, gente... tá difícil!

Fiquei com medo de parecer reacionário ou deprimido.

Reacionário, porque um dos assuntos era sobre o uso de expressões idiomáticas traduzidas literalmente e eu não gosto disso. Quer dizer, acho que em certas situações está ok. Eu mesmo faço essas traduções literais do francês para dizer, por exemplo, que vou “tomar um copo”, quando quero dizer que vou ir em um barzinho com amigos. Então... ah, não sei, me deu preguiça de explicar toda minha teoria. Mas “o meu ponto é”: tudo depende do contexto (essa aí, do ponto, me irrita particularmente). E não é porque está escrito em algum lugar ou porque as pessoas usam o tempo todo, que está certo. Pronto, falei!

Sim, sei que o uso da língua é evolutivo. Sei que expressões vão sendo forjadas com o tempo e aos poucos entram na nossa prática de um idioma. Ainda bem! O que me incomoda é o fato de ser uma tradução literal, meio preguiçosa, que cai de paraquedas, do nada, sem ser convidada, como uma mosca na sopa, no meio da conversa. Um dia, alguém traduziu uma legenda de filme e colocou “estamos na mesma página”, ao invés de... sei lá... “estamos em sintonia” e pronto, o estrago estava feito.

Para mim, isso é completamente diferente de dizer, por exemplo, “kinga”. Aí, eu bato palmas de pé para a criatividade do pessoal e tenho vontade de usar em cada frase. Porque em kinga, que imagino ser o king do inglês passado para o feminino em português, a gente vê o processo de transformação, que é o contrário de uma tradução literal. Dá pra dizer rainha? Dá. Mas kinga materializa um processo antropofágico da nossa língua e da nossa cultura. A pessoa que criou isso é uma kinga!

Ok, ok, na verdade, estou apenas tentando justificar um gosto pessoal. Querendo ficar na minha zona de conforto. Sei que tudo é possível, apesar das minhas preferências, que todos os usos podem entrar na língua, que tem espaço e legitimidade para praticamente qualquer desvio. Com boa vontade, todo mundo se entende e, no fim das contas, o idioma vai ficando mais rico (e não mais pobre, como alguns dizem) com esses acréscimos.

Até porque eu não posso me autoproclamar o grande defensor da norma culta. Aqui mesmo, no blog, está cheio de vírgulas, reticências, “pra”, “num”, “tá”, frases interrompidas, palavras repetidas, que tentam deixar estes textos mais parecidos com o que está borbulhando na minha cabeça. Fora o mau hábito do excesso de vírgulas, isso se chama estilo, queridinha.

É... pra quem não queria falar, já falei demais.

O outro assunto, o que ia me deixar parecendo deprimido, vou guardar pra outro dia. Não preciso jogar tudo aqui de uma vez só, né? Porque se a gente quiser ler sobre morte, arrancação de perna e outras coisas sanguinolentas, a gente vai ler uma tragédia do Shakespeare, né?

Mas, caso este tema tenha despertado o seu interesse, parece que Titus Andronicus é bem assim.

Fui!

Comentários

  1. Eduardo Eipeldauer08 junho, 2023 06:46

    Ai, Dé… Fiquei preocupado. Será que você está tendo que tomar uma decisão na batida do Titus Andronicus? Vou torcer pra que seja só uma brincadeira e também pra que o boletim com mais informações não tarde. Seja lá do que for que se trate a questão, muito axé pros seus caminhos! Uma boa meditação também ajuda muito nessas horas. ✨🙏🏼✨

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    Respostas
    1. Nããão... minha decisão não tinha nada a ver Titus Andronicus! Era profissional :) As coisas sanguinolentas estavam anotadas no meu caderninho... quem sabe um dia aparecem por aqui. Beijo! Obrigado pela leitura e pela buena onda!

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